Eu moro em um prédio perto de uma faculdade de São Paulo. É um prédio pequeno
de dois andares com vários apartamentos pequenos de um dormitório cada em cada
andar, incluindo o térreo, que o dono aluga exclusivamente para estudantes, de
São Paulo e do interior. Todos do prédio se conhecem e são bem amigos. Esse
prédio não tem elevador, já que só tem dois andares. Na verdade existe um
terceiro andar, mas só tem uma sala enorme que é usada como depósito.
E é nesse depósito que se encontra o fantasma do prédio. Se bem que fantasma não
estaria muito certo, está mais para demônio. O prédio tem várias regras, mas a
que se da mais ênfase é "NÃO ENTRAR NO DEPÓSITO DO TERCEIRO ANDAR, NEM SE QUER
ABRIR A PORTA" Ninguém sobe lá em cima.
Aparentemente essa entidade, fantasma ou demônio (o que você preferir) deu uma
dor de cabeça boa por muito tempo, até que alguém conseguiu "trancar" ele lá em
cima no terceiro andar. Parece que foi um residente que ficou aqui por um tempo,
e dizem que depois que ele "trancou" o demônio lá em cima ele falou que ia
embora e que não voltava para o prédio. Ele cortou completamente o contato com
os amigos que ele tinha feito aqui e hoje em dia ninguém sabe onde ele está.
O zelador raramente entra lá dentro do depósito, só quando ele realmente precisa
ir lá. E quando ele vai, ele não demora mais do que alguns minutos. Ele entra
correndo e sai voando de lá de dentro.
Como nesse prédio é todo mundo estudante eu sempre pensei que era mais uma
história só para assustar os mais novos ou para assustar o pessoal que chega do
interior (o que é bem comum aqui), até o dia que eu estava estudando com um cara
que mora no segundo andar. O quarto dele fica bem em baixo de onde está o
depósito. Nós estávamos lá quietos, estudando, quando eu comecei a ouvir barulhos
no andar de cima. Eu olhei para ele e falei "eu achei que o Silva (o zelador)
tinha viajado essa semana" ele olhou para a minha cara e falou "o Silva viajou"
ai eu falei "e quem está no lugar dele?" "ninguém, não tem ninguém cobrindo ele"
ai eu parei, pensei um pouco e arrisquei "e quem está lá em cima no depósito?" O
meu amigo parou de ler o livro, olhou para a minha cara e falou "Não é quem, é o
que." Eu falei para ele poder esquecer aquele papo de demônio no depósito que
comigo não colava, ele perguntou quem podia ser, se só o Silva tinha a chave de
lá e ele estava viajando. Ele falou que se eu estivesse pensando que era rato ou
gato que era para prestar atenção no som. Era o som de algum a coisa grande
andando, e de vez em quando arrastava alguma outra coisa. O que era realmente verdade.
O que fazia aquele som não era nenhum rato ou qualquer outro animal. Ele falou
que já tinha reclamado com o Silva do barulho, que as vezes acordava ele no meio
da noite, mas o Silva falou que não podia fazer nada. O meu amigo pediu para o
SIlva levar ele até lá em cima, para ele mesmo ver o que era. Ele encheu tanto o
Silva que ele acabou levando o meu amigo. Quando o Silva abriu a porta, o
depósito estava completamente gelado. Dava para ver a respiração saindo da boca,
e era verão! O meu amigo perguntou se tinha algum ar condicionado ligado lá
dentro e o silva falou que não, e que quando tava frio assim era bom não deixar
a porta aberta. Quando o Silva estava fechando a porta, o meu amigo conseguiu
dar uma última olhada lá dentro, e ele jura que viu uma sombra escura lá no
fundo, indo na direção da porta. O Silva trancou a porta e foi embora enquanto
ele ficou mais um tempinho lá para ver se ouvia algo. Quando ele estava virando
para ir embora, ele viu a maçaneta da porta girar bem devagar, como se tivesse
alguém testando para ver se a porta estava destrancada. Depois que ele viu isso
ele saiu correndo e nunca mais voltou lá para cima.
Eu já perguntei para o Silva, e ele não gosta de falar sobre o que tem lá dentro.
É muito difícil conseguir fazer ele falar alguma coisa sobre o assunto. A única
coisa que ele repete sem parar é "não é para ninguém ir mexer lá em cima."
Eu tenho mais algumas histórias sobre esse "demônio", mas eu só vou contar
mais uma agora. É sobre uma garota, que morava aqui antes de "trancarem" o coisa
ruim lá em cima. Parece que ela morava no apartamento que ficava bem de frente
para a escada que sobe para o terceiro andar. Numa noite de sábado, quando quase
todos do prédio tinha saído para se divertir, só ela e mais alguns poucos ficaram
lá. Ela estava no computador fazendo um trabalho quando ela ouviu passos
pelo corredor. Nada de anormal, ela não era a única que tinha ficado no prédio.
Mas então bateram na porta de um dos apartamentos vazios. Ninguém atendeu.
Bateram na porta de outro. Também não tinha ninguém. Foram batendo de porta em
porta (ela era a única pessoa do segundo andar que tinha ficado). A essa altura
ela já estava meio assustada achando que podia ser ladrão. Então bateram na
porta do lado do apartamento dela. Ela ficou olhando para a porta, esperando
baterem na porta dela, mas ao invés de baterem, ela viu a maçaneta girando. Ela
estava com o coração na boca, e então bateram na porta. Mas não foi como a batida
dos outros. Nos outros apartamento parecia só que tinham batido com os nós dos
dedos, na porta dela parecia que estavam dando chutes com uma fúria incrível. A porta tremeu
completamente. Ela correu para a cozinha. Da cozinha ela podia ver a porta da
frente. A luz lá fora estava acesa e ela podia ver a sombra dos pés de alguém
pelo vão que tinha embaixo da porta. Um tempo passou e quem quer que fosse ainda
estava lá. Ela resolveu olhar pelo olho mágico quem era, na esperança que fosse
alguma brincadeira idiota de alguém do prédio. Quando ela olhou, ela viu uma
sombra escura e disforme na frente da porta dela, que tinha dois olhos
vermelhos. Quando ela começou a olhar, a sombra estava longe da porta, quase na
escada. Então ela começou a se aproximar, como que se soubesse que a garota
estava lá na porta olhando ela. A garota soltou um grito que chamou a atenção do
prédio inteiro. O pessoal que tinha ficado aqui saiu correndo para ver o que
era, e encontraram a porta aberta, com a garota desmaiada no chão, com duas
marcas roxas nos pulsos dela, como se alguém tivesse agarrado ela com muita
força. Ela falou que só lembra de ter visto a sombra se aproximar da porta e de
gritar. Depois disso ela só lembra de estar todo mundo do lado dela no
apartamento. Sem falar que ela estava com a porta trancada e com a correntinha,
e não tinha sinal nenhum de entrada forçada. No dia seguinte ela foi para a casa
de uma prima dela que mora aqui em São Paulo e só voltou para cá para pegar as
coisas dela.
Depois disso que o tal cara "trancou" de algum jeito o demônio no depósito. Eu
nunca cheguei a ver nada, a não ser uma vez que eu dei uma de curioso e subi para o terceiro andar
para ver se via alguma coisa. Quando eu encostei na porta ela estava completamente
gelada, como se fosse a porta de um freezer industrial. Eu sai correndo de lá na
hora.
E é isso. Essa é a minha história. Mesmo não tendo visto o fantasma, demônio ou
entidade (de novo, o que você preferir) eu já tive provas o suficiente de que
realmente tem alguma coisa naquele depósito. Eu não sei o que, mas tem alguma
coisa lá em cima.
P.S. Eu não informei qual faculdade e qual prédio por questão de privacidade.
Obrigado pela compreensão.
Walter - São Paulo - S.P.